quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

EXÍLIO FORÇADO






Inaugurado em abril de 2008, o MUSEU Inimá de Paula está prestes a perder parte significativa de seu acervo. Nascido a partir do encontro de colecionadores que, desde 1998, vêm organizando e preservando a obra do artista mineiro (1918 - 1999) por meio da FUNDAÇÃO Inimá de Paula, o espaço cultural no Centro de Belo Horizonte abriga atualmente 120 quadros do pintor. O acervo foi criado a partir de empréstimos de colecionadores. O maior deles, o marchand carioca Maurício Pontual, por comodato, cedeu há quatro anos 73 quadros (63 óleos; o restante é formado por desenhos, aquarelas e guaches). Até o final deste mês ele vai retirar a maior parte de sua coleção, levando-a de volta para o Rio de Janeiro.
Dono de galeria que leva seu nome, com atuação há quatro décadas na capital fluminense, Pontual está tentando, há pelo menos dois, vender sua coleção. Conseguiu aprovar pela LEI ROUANET R$ 4,4 milhões, divididos em dois projetos, no valor de R$ 2,2 milhões cada, para compra de acervo. Desde 2009, procurou diferentes empresas do estado na tentativa de patrocínio. "Fiz um trabalho que o MUSEU não fez, pois não procuraram um captador." Nas empresas procuradas por Pontual, a resposta foi a mesma: "Todos canalizam seus recursos para projetos próprios." Nesse período, somente uma cota, de R$ 440 mil, foi comprada pelo Banco Itaú, para doação de algumas obras.
"Sei de vendas duas ou três vezes maiores do que essas. Houve uma de R$ 5 milhões por Guignard, R$ 6 milhões por Ismael Nery, R$ 10 milhões por Tarsila. Lanço a pergunta: "E o Inimá, o maior pintor de Belo Horizonte, não vale nada?"", questiona Pontual, que queria que sua coleção permanecesse no MUSEU. "Sou um homem de 81 anos, trabalho com arte e tenho paixão pelo MUSEU. Se há uma coisa que fiz na vida foi ajudar a fazer um MUSEU em Belo Horizonte. Antes da criação, o Mauro Tunes (mecenas que investiu R$ 4,5 milhões para a restauração da antiga sede do Clube Belo Horizonte; atualmente é vice-presidente da FUNDAÇÃO Inimá de Paula) me procurou dizendo que só iria restaurar o prédio se eu desse, por escrito, a garantia que deixaria minha coleção em comodato. Na época, havia obras de dois ou três colecionadores, não uma coleção como a minha. Só que um MUSEU não é um prédio, é o que tem ali dentro", acrescenta.
Diretora administrativa e financeira do MUSEU, Cláudia Tunes afirma que a FUNDAÇÃO Inimá de Paula não tem recursos para adquirir a coleção de Pontual. "A FUNDAÇÃO vive de doações. O que entra de recurso é para a sua sobrevivência. Quando ficamos sabendo que o Pontual queria voltar com as obras para o Rio, tentamos tirar o melhor disso. Corremos atrás de outros colecionadores que se dispuseram a colocar suas obras no MUSEU. A saída da coleção dele representa um grande desfalque, mas também será uma renovação, já que desde a inauguração estamos com as mesmas obras." Cláudia Tunes não sabe, por ora, quantas obras serão emprestadas ao MUSEU, que tem uma visitação média de 3 mil pessoas por mês. Depois da coleção Maurício Pontual, a segunda maior do MUSEU é a de Mauro Tunes, composta por cerca de duas dezenas de telas.

Atualmente o MUSEU, que tem três andares expositivos, apresenta, no mezanino, parte do acervo de Inimá de Paula. São quarenta telas - paisagens, naturezas mortas e flores -, além da sala de autorretratos, um dos destaque do projeto museográfico. No espaço com seis quadros, o que causa maior impacto é o autorretrato da década de 1950, um dos trabalhos mais conhecidos de Inimá. "Guignard fez alguns autorretratos, Pancetti e Portinari também. Mas coloco esse como o melhor momento em que um artista pintou a si próprio no Brasil", diz Pontual sobre a joia de seu conjunto. O marchand começou a colecionar Inimá em 1982. "Na época, vi os quadros dele das décadas de 1960 e 1970 e achei a pintura muito boa. Além disso, o preço, em relação à qualidade, era baixo."
O primeiro Inimá custou a Pontual, há 30 anos, US$ 5 mil. Nos anos subsequentes ele continuou comprando, e em meados da década de 1980 já era identificado como colecionador de Inimá. "As pessoas começaram a me trazer os quadros e tive a oportunidade de comprar o que ele tinha de melhor. Quando minha coleção tinha 50 e poucos quadros nasceu em BH a ideia de fazer um catálogo (que foi o ponto de partida da FUNDAÇÃO Inimá de Paula)." Hoje, ele diz que nos leilões só têm aparecido quadros secundários. "Não existe a possibilidade de fazer essa coleção de novo. A melhor época do Inimá é a dos anos 1960. E ela está no MUSEU. Tive a proposta de um colecionador que quis comprar 20, 25 quadros. Para mim seria atraente, colocaria R$ 1 milhão no bolso. Mas o valor do Inimá não é individual, mas da coleção. Então prefiro guardar os quadros para os meus filhos, não quero sair como um mascate", conclui.

Fonte: Mariana Peixoto –  Estado de Minas 4/1/2012

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