terça-feira, 29 de novembro de 2011

Enquanto isso, em Brasília...

Brasília está pensando em comprar um sofá e um tapete novos, mas faz vista grossa para o fogão entupido, a geladeira enferrujada, a máquina de lavar barulhenta e inoperante. O MINISTÉRIO DA CULTURA e o GDF anunciaram uma parceria para a construção de mais dois MUSEUS até 2014, um deles o da Fotografia Brasileira. Palmas para ele, mas vale pendurar na porta da geladeira velha alguns lembretes tanto para a ministra quanto para o governador.

1 - O Arquivo Público do Distrito Federal guarda um tesouro da história de Brasília. São documentos, vídeos, fotografias e depoimentos orais que relatam os épicos acontecimentos do fim dos anos 1950. Como já informou a repórter Nahima Maciel neste jornal, os preciosos filmes e os negativos de fotografias do período da construção estão se deteriorando irremediavelmente. Para tratar os 6 milhões de imagens do acervo, seriam necessários R$ 24 milhões. O orçamento anual do Arquivo resume-se a risíveis R$ 300 mil. O corpo de funcionários efetivos não ocupa os dedos das duas mãos.

2 - O Instituto Histórico e Geográfico do DF "é o mais esquecido dos arquivos brasilienses", escreveu Nahima. Guardião de coleções de revistas e jornais que noticiaram a construção de Brasília, o IHGDF tem apenas um FUNCIONÁRIO cedido pela Secretaria de Educação. "Os mapas históricos estão em cestos."

3 - Principal espaço de exposição da cidade, o MUSEU de Arte de Brasília, o MAB, está fechado desde 2007. O predinho moderno no Setor de Clubes Norte já foi um dos mais importantes destinos da arte contemporânea da capital.

4 - O Espaço Cultural Renato Russo, na 508 Sul, está em estado precário.
Parte significativa da história cultural da cidade nos anos 1970/1980 e até 2000, o galpão corre o risco de se transformar em destroços da memória de mais de uma geração de brasilienses.

5 - A BIBLIOTECA NACIONAL não possui acervo de livros em papel, só digitalizados. E não se trata de uma opção pela tecnologia, mas de falta de recursos para investimento. O MUSEU da República não tem acervo perene.

6 - A FUNDAÇÃO Athos Bulcão está encostada num endereço temporário enquanto um belíssimo projeto de Lelé para a sede definitiva espera um mecenas para ser construído.

7 - Mais comovente representação do heroísmo dos que construíram a cidade, o MUSEU Vivo da Memória Candanga precisa de recursos para incrementar o seu acervo, as suas atividades culturais e a sua estrutura física.

8 - Entra governo e sai governo e o Espaço Lucio Costa, o surpreendente MUSEU debaixo da Praça dos Três Poderes, aguarda que algum SERVIDOR público, com poder de decisão, renove as suas instalações e incremente as suas atividades.

9 - O TEATRO Oficina do Perdiz espera por um gesto de coragem para ser salvo.

10 - E o Catetinho completou 55 anos fechado ao público à espera de reforma.

Fonte: Correio Braziliense, 25/11/2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

DEU NO JORNAL: Brasília vai ganhar cinco novos MUSEUS


JORNAL DE BRASILIA - DF
Proposta prevê mais cinco novos museus
 Esta é a proposta que o Ministério da CULTURA (MinC) apresentou, na última semana, ao Governo do Distrito Federal. A ideia é construir uma Esplanada dos MUSEUS (Museu dos Esportes, de Arte das Américas, da Democracia, da Biodiversidade e da DIVERSIDADE CULTURAL) em uma área ainda não definida, mas que reúna todas as unidades num mesmo espaço geográfico.

Resposta de um leitor:
Haja paciência! 
Sr. Redator:
Nossos políticos e administradores públicos não cessam de nos surpreender com a sua singular criatividade. Vão criar cinco novos MUSEUS no DF: Esportes, Arte das Américas, Democracia, Biodiversidade e DIVERSIDADE CULTURAL. Os empreiteiros de obras públicas certamente estão esfregando as mãos de contentamento. Alguns milhões serão gastos. Pra quê? Ninguém vai aos MUSEUS já existentes - que vivem às moscas - sem nem sequer terem acervo permanente. Os turistas, que não ficam em Brasília mais de 12 horas, se interessarão por mais alguns MUSEUS chinfrins? Talvez os luminares tenham pensado, isto sim, em mais algumas sinecuras: diretores, curadores, administradores, museólogos...Depois, quem sabe, surgindo do nada, apareça mais uma secretaria para atender à base do governo? Enquanto isso, escolas, centros de saúde, hospitais e logradouros pobres clamam, inutilmente, pela atencão dessas inteligências. Haja paciência!
» Nilton de Castro Bessa, Sudoeste

terça-feira, 1 de novembro de 2011

UMA HISTÓRIA DO BRASIL NA PINACOTECA DE SÃO PAULO: É POSSÍVEL


A nova exposição de longa duração da Pinacoteca de São Paulo está recebendo muitos elogios. Transcrevemos abaixo reportagem de Luiza Duarte, publicada no Globo de 30/10/2011. A instituição tem procurado romper com a mesmice dos discursos expositivos dos grandes museus brasileiros, fazendo releituras do acervo mais antigo e diálogos com a arte contemporânea.
 
UMA HISTÓRIA DO BRASIL
Com painel do século XVIII a 1930, Pinacoteca de SP prova bom uso de acervo público
Luisa Duarte

segundocaderno@oglobo.com.br


Há cerca de um mês e meio publiquei neste mesmo espaço um artigo sobre o desequilíbrio do sistema da arte no Brasil. Um dos objetivos do texto era apontar a necessidade da valorização de coleções de arte públicas no país e refletir sobre a falta de INCENTIVO por parte de entidades privadas e estatais.

O texto de hoje vem mostrar que nem tudo é terra arrasada quando se fala em instituições e acervos no lugar em que vivemos. A mostra "Arte no Brasil - Uma história na Pinacoteca de São Paulo", em cartaz em caráter permanente na Pinacoteca do Estado de São Paulo, nos mostra que sim, existem coleções públicas, e sinaliza para a possibilidade de uma instituição funcionar com um padrão de excelência em solo brasileiro, desde que conte com recursos constantes e seja conduzida por profissionais de capacidade reconhecida em um projeto de médio e longo prazo.

A Pinacoteca é um exemplo disso, tendo à sua frente o diretor Marcelo Araújo e o curador-chefe Ivo Mesquita, dois grandes responsáveis pelo trabalho realizado neste espaço dedicado à arte contemporânea, mas também moderna e pré-moderna.

"Arte no Brasil" é fruto de um recorte curatorial que busca apresentar uma história da arte no Brasil entre o século XVIII e a década de 1930, época em que se estabeleceu no meio artístico brasileiro a distinção entre "belas artes" e "arte moderna". O que se vê ao longo de 11 salas divididas por temas como "A tradição colonial", "Os artistas viajantes", "A criação da academia" e "A pintura de gênero" é um conjunto com cerca de 500 obras, entre pinturas, esculturas, desenhos, gravuras e fotografias, que nos recorda um período importante da arte no país, mas cada vez mais esquecido.

Uma tela como "A LEITURA" (1892), de Almeida Jr., encontra-se no núcleo sobre pintura de gênero. Já a bela "Baía cabralia" (1900), de Antonio Parreiras, é uma pintura de paisagem que nos revela não um Brasil solar, mas sim atravessado por vazio e certa melancolia.

A curadoria elegeu dois grandes eixos que encaminham a mostra, o primeiro deles trata da formação de um imaginário visual sobre o Brasil. Nesse ponto, é fundamental a contribuição dos artistas viajantes estrangeiros dos séculos XVII ao XIX. De outro lado, há a formação de um sistema de arte no país - ensino, produção, mercado, crítica e MUSEUS - iniciado com a vinda da Missão Artística Francesa, a criação da Academia Imperial de Belas Artes e o PROGRAMA de Pensionato Artístico.

Toda a mostra está entremeada por quatro salas de caráter temporário que realizam diálogos com a exposição principal. Este é o caso da coletiva "Viajantes contemporâneos", que reúne trabalhos de artistas como Cildo Meireles, Carla Zaccagnini, João Modé, Vicente de Mello, Rivane Neuenschwander, entre outros. Todas as obras exibidas foram feitas quando estes artistas estavam na condição de viajantes, por conta de programas como residências, feiras e bienais. Se vemos ao longo de "Arte no Brasil - Uma história na Pinacoteca de São Paulo" uma série de trabalhos feitos por artistas viajantes que vinham para o Brasil e forjavam uma representação do país - sendo o Rio de Janeiro a cidade mais representada -, hoje os artistas trazem para o Brasil o lugar visitado de maneira poética.

Gosto pelo colecionismo

Era preciso um espaço maior para realizar um ensaio crítico sobre uma mostra dessa envergadura, mas fica aqui o registro desta que já é uma exposição histórica e imperdível. Resultado de um trabalho em equipe que mobilizou todos os setores da instituição ao longo de quatro anos, "Arte no Brasil - Uma história na Pinacoteca de São Paulo" revela, entre muitas coisas, como foi forjado no Brasil o gosto pela arte e pelo colecionismo, público e privado, gosto este que está na origem da criação dos MUSEUS e dos processos de transformação dos bens culturais em patrimônio público, ou seja, aquilo que pertence a todos nós e forma simbolicamente um país mais reflexivo sobre si mesmo. Consciente de sua história e, quem sabe assim, mais seguro no seu presente e esperançoso quanto ao seu futuro.

Seguidores

Visitantes