quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

COMIDA DE GRIFE RENOVA [?] PUBLICO DE MUSEUS

A Reportagem abaixo, publicada no Estadão, mostra como os Museus investem cada vez mais em cafés e bistrôs como um atrativo e fonte de renda. O que é uma idéia bacana e uma tendência mundial. Entretanto, o que não está posto (silêncio!) é o fato  desses serviços serem excludentes, discriminátorios mesmo, pelos altos preços cobrados, preços que estão de acordo com o status de grife a eles atribuídos.
Que público "renovado" é esse então de que fala a reportagem? Certamente não o é das classes de menor poder aquisitivo, da população em geral. É o do executivo "moderninho" [sic] que ganha bem e pode pagar R$ 8,20 por uma água e um cafezinho. Depois, quem sabe, ele pode pagar R$ 30 para ver uma exposição internacional que foi custeada com os impostos pagos pela população como um todo. Os museus-espetáculo, com seus cafés de grife, tornam-se equipamentos cada vez mais restritivos e não includentes. Sua museografia feérica contribui para intimidar o indivíduo economicamente modesto. Aliás, alguns museus já são em si uma grife... Nada contra, se outros museus e espaços de memória que se pretendem inclusivos e disseminadores de uma cidadania cultural pudessem perceber ao menos uma ínfima parte dos recursos que são destinados aos "museuzãos", aos "institutos" de bancos e empresas de grande porte.


Reportagem de Valéria França no Estadão de 19/1

E o filão só aumenta. Até o fim do mês, por exemplo, o MIS vai ganhar o Chez Burger

No lugar da quiche descongelada no micro-ondas, bufês generosos - ou jantar à la carte, com carta de vinhos e champanhe.Tudo em um sofisticado salão de um prédio histórico. Restaurantes conhecidos, com chefs badalados, estão migrando para MUSEUS, teatros e galerias de arte de São Paulo.
O Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, zona oeste, por exemplo, tem o Santinho, da chef Morena Leite; a Galeria Vermelho, o Sal Gastronomia, comandado pelo badalado chef André Fogaça, ex-D.O.M; e o TEATRO Municipal, o Café,com curadoria gastronômica de Sandra Valéria Silva, do Bistrô da Sara, no Bom Retiro.
Até o fim do mês, o Chez Burger, do grupo franco-brasileiro Clastra - dono do Bar Secreto e do Lorena 1989, entre outros negócios - , abre no MUSEU da Imagem e do Som de São Paulo (MIS). No comando, os chefs Victor Vasconcelos e Adriana Cymes, autora da receita do hambúrguer do Bar Secreto, que fez tanto sucesso entre os moderninhos da cidade que deu origem à nova casa. "As instituições culturais paulistanas estão se equiparando aos maiores MUSEUS do mundo. Ter um restaurante de porte faz parte de uma infraestrutura necessária", diz o antropólogo Carlos Alberto Dória, autor de livros e de um blog de gastronomia.
Para o visitante, o restaurante completa o PROGRAMA. Para os MUSEUS e centros culturais, ajuda na divulgação do lugar. "De cada dez clientes que entram para almoçar, oito não vieram para a exposição",diz Adolfo Gorenstein, de 57 anos, sócio do Uni, restaurante do MUSEU de Arte de São Paulo, um dos pioneiros do segmento, aberto há 26 anos. "Mas já vi muita gente que entrou lá pela primeira vez por causa do almoço e virou visitante assíduo das exposições."
Gorenstein ainda opera, em parceria com outros sócios, os restaurantes do Centro Cultural São Paulo, da Sala São Paulo e,há seis meses, do Café do TEATRO Municipal. Isabela Prata, dona da Escola São Paulo e colecionadora de obras de arte, não era exatamente o tipo de paulistana que costumava sair de casa para almoçar em um MUSEU. Mas começou a fazer isso desde que o Santinho e o Sal abriram. "A comida da Morena Leite é gostosa e rápida. Dá para ir durante a semana. E no restaurante do Sal, além da boa comida, tem o agradável jardim da Galeria Vermelho."
No centro, o Café do TEATRO Municipal, que abre todos os dias para almoço, atrai executivos e advogados da região. No início, tinha 34 lugares distribuídas em pequenas mesas espelhadas, que refletem os afrescos do teto. Havia filas de espera, e a alternativa foi transformar a varanda em extensão do café. "É muito comum ver alguém saindo do café e indo direto para a bilheteria", diz Beatriz Franco do Amaral, diretora do TEATRO Municipal. "Isso ajuda a rejuvenescer a plateia da casa."

 

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